Conforme as causas do recente colapso do SVB (Silicon Valley Bank) vão sendo investigadas pelo Congresso norte-americano, juntamente com diversas autoridades do governo, novas e chocantes informações vão surgindo ao público, revelando desde possíveis falhas regulatórias até mesmo irresponsabilidade de gestão.
Michael Barr, vice-presidente de supervisão do FED, uma das principais figuras à frente do processo investigatório, disse nesta última terça-feira em audiência no Congresso que pode ser necessário fortalecer os padrões de capital e liquidez para instituições de médio porte, como era o caso do SVB.
Especula-se que uma lei aprovada em 2019 tenha facilitado as brechas para que instituições com ativos entre 100 a 250 bilhões de dólares possam cometer “falhas” na gestão de ativos e liquidez, sem que a autoridade monetária pudesse tomar medidas preventivas mais fortes.
Acompanhamento do FED
Na verdade, o SVB estava sendo monitorado de perto pelo FED há mais de um ano. O Banco Central dos Estados Unidos levantou preocupações com a gestão de risco de taxa de juros e liquidez do banco.
Membros do órgão de supervisão do FED realizaram reuniões com o alto escalão do SVB ainda em 2021, com objetivo de reforçar a elevada preocupação com a gestão dos ativos dentro do banco. Além disso, foram emitidos vários alertas do FED entre o final de 2021 e 2022, aparentemente menosprezados pelo SVB.
Os alertas recomendavam atenção imediata para solucionar a imprecisão detectada na modelagem de risco de taxa de juros adotada pelo banco. De forma bastante resumida, o modelo de risco do SVB não estava alinhado com a realidade do mercado.
Negligência por parte do SVB?
Uma das principais dúvidas que circulam no Congresso neste momento é porque, depois de tantas reuniões e avisos do órgão de supervisão, a administração do banco não tomou as ações necessárias para corrigir as suas falhas.
O problema principal parece estar concentrado mais na parte de execução da supervisão do que de regulamentação. Pelo que se observa até o momento, o FED detectou previamente o problema com bastante antecedência, entretanto não houve mecanismos suficientes para a supervisão ter conseguido impor as medidas a serem tomadas pelo banco.
Crescimento acelerado
O SVB mais do que triplicou seus ativos em apenas quatro anos, sendo que cerca de 90% dos depósitos eram de clientes com limite superior à cobertura de 250k dólares do FDIC (grande maioria empresas de tecnologia). Obviamente, os depositantes que possuem valor acima da cobertura do FDIC, ciente dos riscos, são mais propensos a mover rapidamente seus recursos para outras instituições financeiras maiores a qualquer sinal de fumaça, condição que por si só aumentava o risco do SVB.
Por conta do rápido crescimento em ativos nestes últimos quatro anos, o SVB basicamente alocou os recursos que entravam em tesouraria para títulos lastreados em hipotecas e treasuries, num cenário de taxa de juros futuros muito amassada. Entre outras palavras, a enxurrada de depósitos incentivou o banco adquirir ativos caros demais, com remuneração muito baixa. Mesmo com os avisos precoces de elevação da FFR, o banco não tomou ações para se defender de um possível aumento das taxas no mercado de juros futuros.
Conforme pode-se notar no gráfico acima, a taxa de juros da Treasury de 10 anos subiu rapidamente de uma região estagnada em torno de 0,50% em 2020 para 4% em 2023, refletindo o processo de aperto das condições monetárias. Talvez, o mínimo esperado pela tesouraria do SVB era uma operação de hedge para se proteger das altas das taxas de juros futuros, o que não foi feito.
Sem o hedge, a marcação a mercado dos títulos adquiridos a taxas mais baixas no passado, para conseguir pagar os volumes de retiradas cada vez maiores, acabou com a solvência do banco de uma forma sem precedentes na história. O SVB quebrou em apenas dois dias.
Pouco antes da falência do SVB, funcionários da autoridade monetária ainda estavam esperançosos em conseguir evitar um colapso da instituição através de empréstimos da janela de descontos do FED.
O dia “D”
Na quinta-feira do dia 19/03/2023 houve uma fuga de 42 bilhões de dólares do SVB, chamando atenção de vários empresários do setor de tecnologia. Autoridades do FED estavam arquitetando uma linha de empréstimos para honrar os saques no dia seguinte. Entretanto, na manhã da sexta-feira, em 10/03/2023, o SVB comunicou a autoridade monetária que o fluxo de retirada veio muito acima do esperado, totalizando 100 bilhões de dólares que estavam programados para sair do banco imediatamente.
Em apenas dois dias, o SVB tomou 142 bilhões em resgates, caracterizando uma corrida de saques sem precedentes. Este foi o segundo maior colapso de uma instituição financeira nos Estados Unidos desde a crise do subprime em 2008.
A corrida bancária no SVB pode ter sido criada por uma crise de credibilidade, especialmente sobre os bancos de médio porte. Este evento ainda não foi totalmente controlado, já que outros bancos médios, como o Signature Bank, por exemplo, tiveram que ser resgatados rapidamente pelas autoridades norte-americanas, a fim de evitar uma contaminação maior no sistema.
Este evento de 2023 provavelmente irá provocar novas revisões nas regulamentações para aumentar a segurança do sistema financeiro norte-americano. Até o momento, ainda não foram divulgadas quais são as medidas que serão tomadas.