O questionário realizado pelo Banco Central, às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária, entrevistando 100 analistas de diferentes instituições para coletar projeções de indicadores macroeconômicos relevantes, buscando identificar um bom termômetro de mercado, mostrou algumas divergências com as expectativas da equipe econômica do governo federal.
O principal ponto preocupante apontado pelo relatório pré-Copom está na situação fiscal de longo prazo. O ministério da Fazenda espera que o Brasil vai alcançar a estabilização da dívida pública no final do mandato do presidente da República, ficando abaixo de 80% PIB.
Já a mediana das expectativas coletadas pelo questionário do Banco Central com diversos analistas e economistas de mercado apontou um cenário bem pior, com a dívida pública alcançando 90% PIB até 2032.
Esses números do mercado já consideram a apresentação da nova proposta de arcabouço fiscal pelo governo brasileiro, sinalizando que existe desconfiança sobre o alcance da sustentabilidade fiscal no longo prazo.
No relatório, a mediana das expectativas dos analistas para a inflação ficou em 6% no fechamento deste ano. Para 2024, a mediana das expectativas está em 4,11%, mantendo-se acima da meta a ser perseguida. A meta de inflação a ser alcançada pelo Banco Central no ano que vem é de 3% (0,25 ponto percentual abaixo da meta deste ano), com tolerância máxima de 4,50%.
Os números revelam que até o momento, o arcabouço fiscal não convenceu o mercado. O governo criou uma expectativa muito grande de estabilização da dívida pública com a nova proposta, mas as possibilidades de alcance das metas traçadas pela equipe do ministério da Fazenda parecem diminutas considerando a situação atual.
Outro fator relevante a ser observado está na confirmação por parte do mercado, em linha com o diagnóstico do Banco Central, de que não há relação mecânica entre a política monetária e o arcabouço fiscal. Ou seja, a aprovação da nova proposta de controle de gastos no Congresso não é suficiente para criar o cenário para que a autoridade possa começar a cortar os juros.
O arcabouço fiscal pode ajudar na tentativa de reconquistar a confiança dos investidores e empresários no futuro, mas para que o Banco Central possa começar de fato cortar a taxa básica de juros, as expectativas de inflação precisam estar ancoradas na meta a ser perseguida.
O Banco Central também divulgou nesta última quarta-feira os testes de estresse para o sistema financeiro brasileiro. Havia certo temor de que a crise desencadeada por algumas empresas de grande porte, como Americanas por exemplo, pudesse colocar em risco a liquidez e estabilidade do sistema bancário.
Mesmo com a recente crise de crédito, os modelos do Banco Central apontam que os impactos para a solvência do sistema foram irrelevantes. Foi efetuado inclusive um teste de estresse específico considerando eventual default das Americanas e sua rede de fornecedores. As análises de sensibilidade indicaram boa resistência do sistema.
O teste também revelou que os bancos brasileiros que possuem títulos mantidos até o vencimento possuem boas condições de liquidez e capital para poder continuar carregando essas posições, tornando-se desnecessária a venda antecipada destes ativos. Mesmo em cenários de corrida de saque, como ocorreu nos Estados Unidos, levando algumas instituições a insolvência, os bancos brasileiros analisados pelo teste de estresse teriam condições de liquidez para suportar as retiradas sem necessidade de venda antecipada destes ativos.
O Índice de Basiléia alcançou relevantes 16% em dezembro de 2022, superior aos 16,1% registrados em junho do ano passado. O número é bem superior ao mínimo recomendado de 8% de Basiléia. Indicador importante para demonstrar a resiliência do sistema bancário, com capitalização e liquidez confortáveis.