O Departamento do Comércio dos Estados Unidos divulgou nesta sexta-feira o índice de gastos com o consumo (conhecido como PCE), principal indicador de preferência do FED para tomar suas decisões de política monetária.
No mês de março, o PCE subiu 0,10% comparado ao mês de fevereiro. No acumulado dos últimos 12 meses, a alta acumulada cedeu para 4,2%, desacelerando de forma significativa frente aos 5% registrados no mês de fevereiro. Importante relembrar o efeito calendário na comparação com o mesmo período do ano passado, onde as commodities subiram acentuadamente após o início da invasão da Rússia na Ucrânia.
O pânico no mercado de commodities durou alguns meses após o início dos conflitos na Ucrânia. Desde o terceiro trimestre do ano passado, várias commodities, tanto de alimentos, quanto de energia, estão trabalhando no acerto de preços, com correção significativa.
O acordo de grãos no Mar Negro, permitindo a escoagem da produção, juntamente com a desaceleração do crescimento (demandando menos consumo de commodities) contribuiu para arrefecimento dos preços. Por conta disso, o efeito calendário é positivo para os índices de preços, que estão excluindo altas muito fortes de commodities observadas cerca de 12 meses atrás, substituindo-as para o cenário atual de preços mais baixos no segmento.
Energia e alimentos são componente que sempre se mostraram voláteis nos índices de preços. Não por acaso, o FED prefere avaliar o núcleo do PCE, ao invés de fazer a leitura do PCE normal, que inclui estes elementos mais voláteis.
Conforme divulgado pelo Departamento do Comércio, o núcleo do PCE no mês de março subiu 0,3% comparado com o mês de fevereiro. Como o núcleo do PCE exclui as variações de preços de alimentos e energia, pode-se concluir que a inflação continua rodando a um ritmo muito acelerado nos Estados Unidos, disseminada entre bens e serviços.
Para efeito ilustrativo, caso o núcleo do PCE continue operando neste ritmo de 0,3% ao mês, a inflação no acumulado do ano chegará aos 3,6%, muito acima da meta de 2% a ser perseguida pela autoridade monetária.
Neste cenário, não há motivos para o Banco Central dos Estados Unidos decidir manter inalterada a FFR na próxima reunião de Comitê a ser realizada semana que vem. Considerando a evolução dos indicadores econômicos divulgados desde a última reunião, é possível que o FED aumente novamente a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, porém sem possibilidade de cravar o fim do ciclo de aperto monetário.
Apesar de ser amplamente esperado que o ciclo de elevações da FFR sofrerá uma pausa após a reunião da semana que vem, não há fundamentos neste momento para que o Banco Central consiga já cravar o fim do ciclo de aperto monetário. Qualquer comunicação neste sentido seria uma forma desnecessária de antecipar uma decisão futura, que ainda é muito dependente dos próximos dados de inflação, PIB e desemprego.
A desaceleração no núcleo do PCE precisa ser mais forte, de forma a apontar uma expectativa de médio prazo em torno de 2%. A manutenção de um mercado de trabalho ainda muito aquecido, com taxa de desemprego em 3,5%, próximo dos níveis mais baixos da história, juntamente com inexistência de recessão econômica, tendem a deixar a autoridade monetária norte-americana ainda hawkish.
Entretanto, o clima em Wall Street tem se mostrado diferente, revelando pouca preocupação com a inflação, inclusive com alguns analistas manifestando expectativa de cortes na FFR em breve. As bolsas de valores acumulam altas significativas desde meados de março, com o índice S&P500 colado na máxima do ano e o mercado de bonds segue desenquadrado do FED, com a Treasury de 10 anos pagando 3,53%.
Por fim, o FED informou nesta sexta-feira o seu diagnóstico sobre a revisão dos eventos que provocaram uma crise no sistema bancário no mês passado. Michael Barr, vice-presidente de supervisão da autoridade monetária, concluiu que o FED precisa fortalecer os instrumentos para garantir maior vigilância entre os bancos americanos.
Além da incapacidade de identificar todas as vulnerabilidades apresentadas pelos bancos, não foi possível tomar as medidas necessárias para a correção dos problemas. Dentre as mudanças que poderão ser adotadas pelo FED daqui pra frente está o maior requerimento de capital e liquidez para aumentar a resiliência dos bancos.
A crise bancária ainda preocupa o FED. Neste momento, autoridades norte-americanas estão sendo forçadas a tomar uma decisão rápida quanto ao agravamento da situação do First Republic Bank. Sem aparecer nenhuma notícia de novos aportes de bancos americanos (inclusive do grupo de 11 bancos que realizaram no total 30 bilhões de aportes no First Republic Bank mês passado), especula-se no mercado que o FDIC terá de intervir para realizar o resgate da instituição.