Fernando Haddad, ministro da Fazenda, comunicou nesta última segunda-feira que seu atual secretário-executivo, Gabriel Galípolo, será o primeiro indicado do governo para assumir uma vaga aberta para a diretoria de Política Monetária do Banco Central. Outra vaga no Copom será ocupada por Aílton de Aquino Santos, servidor de carreira no Banco Central, que assumirá a diretoria de Fiscalização.
A indicações destes dois novos membros do Copom precisará passar por aprovação no Senado, processo que tende a ocorrer sem muita objeção. Ambos os nomes são bem vistos pelo atual presidente da República.
O ministro da Fazenda nega que as indicações tenham cunho político.
Entretanto, o simples fato de ambos contarem com a confiança e aval do Lula, que tem feito duras críticas ao Banco Central desde o início de seu mandato, por manter a taxa Selic aos 13,75% ao ano, revela uma possível intenção de criar um viés heterodoxo dentro da autoridade monetária, que passaria futuramente a ser mais alinhada com uma política econômica desenvolvimentista.
A depender da tramitação no Senado, ambos já poderão participar da próxima reunião do Copom, a ser realizada nos dias 20 e 21 de junho. Em dezembro deste ano, o governo poderá indicar mais dois novos diretores ao Copom, para ocupar os mandatos de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta e Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos.
Portanto, em dezembro deste ano, o governo conseguirá obter quatro membros do Copom que podem reforçar a mudança de viés da política monetária para uma estratégia mais heterodoxa. O colegiado é formado por nove membros e ainda pode haver divergências internas. Em dezembro de 2024, expira o mandato de Roberto Campos Neto e mais outros dois membros do Copom. Até o final do próximo ano serão sete indicações do governo, que conseguirá ampla maioria no colegiado.
Galípolo já é cotado pelo mercado para assumir a presidência da autoridade monetária assim que terminar o mandato de Roberto Campos Neto. Especula-se que Galípolo vai iniciar um trabalho dentro do Banco Central para alinhamento de ideias entre os membros do Comitê de forma a convergir com o entendimento do governo sobre o nível da taxa básica de juros.
Luiz Gonzaga Belluzzo, considerado um dos principais conselheiros econômicos do presidente Lula, famoso defensor de políticas heterodoxas, realizou a ponte para que o presidente da República pudesse conhecer as ideias de Galípolo.
Importante relembrar que Galípolo teve seu nome ligado ao PT em 2022, ao acompanhar a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, em um jantar com empresários. Também já escreveu um livro em conjunto com Belluzzo e já se mostrou defensor das ideias de André Lara Resende, da escola heterodoxa. Haddad e Galípolo já fizeram trabalhos em conjunto anteriormente, com destaque ao artigo sobre a criação de uma moeda única de compensação comercial para a América do Sul.
A diretoria a ser ocupada por Galípolo no Banco Central é considerada uma das mais prestigiadas, abaixo apenas da presidência. Como diretor de uma importante mesa na autoridade monetária, cresce os temores de que Galípolo possa elevar a pressão interna para cortes na taxa básica de juros já no curto prazo.
Não por acaso, as taxas de juros futuros da ponta média e longa subiram de forma relevante após o anúncio do ministério da Fazenda. O contrato para 2028 saiu de 11,59% para 11,76% no fechamento de segunda-feira.
A abertura dos juros da ponta média e longa revelam pessimismo do mercado e um possível início de perda de credibilidade do Banco Central. O temor é de que os nomes indicados pelo governo possam pressionar para uma queda precipitada da taxa Selic, o que levaria a um erro grave na política monetária.
Como sempre, erros de política monetária custam caro, exigindo mais tempo no futuro com juros mais elevados para reconquistar a credibilidade e ancorar as expectativas na meta de inflação.
O movimento atual lembra a era de Alexandre Tombini no Banco Central. Indicado pelo governo Dilma Rousseff, visto pelo mercado como alinhado às ideias heterodoxas e da política monetária moderna, ou nova matriz econômica, sua gestão foi marcada por duras críticas do mercado.
Na época, cerca de 500 basis points foram cortados da taxa Selic, num ambiente macroeconômico extremamente desafiador. A inflação rondava persistentemente acima da meta, entre 6% a 7% ao ano, juntamente com aceleração de estímulos fiscais, juros subsidiados e desonerações. O resultado destas medidas do governo e Banco Central na época, provocou um desastre econômico sem precedentes, principal responsável por descolar negativamente o Brasil dos BRICS na década passada.