Após o adiamento da viagem do presidente da República, juntamente com mais de 20 políticos, entre eles Fernando Haddad, ministro da Fazenda, para a China nesta semana, a agenda interna voltou para o centro das atenções no mercado.
Existe grande expectativa para avanços definitivos no projeto do novo arcabouço fiscal. A proposta estava sendo deixada de lado pelo Lula, alegando prioridade de agenda para a visita que faria ao gigante asiático. A demora para definição de um tema tão relevante do ponto de vista macroeconômico chegou a irritar investidores no mercado, provocando queda na bolsa, elevação do dólar e alta das taxas de juros futuros.
Expectativas foram criadas
Nesta terça-feira, Fernando Haddad aumentou ainda mais as expectativas no mercado, alegando que será realizada uma reunião conclusiva sobre o arcabouço fiscal já na próxima quarta-feira, dia 29/03/2023.
Consequentemente, o humor dos investidores no mercado financeiro tem melhorado de forma significativa nos últimos dias. O Ibovespa, por exemplo, conseguiu subir mais de 4.000 pontos, saindo de uma mínima dos 97k registrada na sexta-feira passada para 101,5k até o início da tarde desta terça-feira. Oscilação considerada expressiva para um curtíssimo espaço de tempo.

Dólar recua
O dólar x real, que chegou alcançar R$ 5,34 no auge do temor da sexta-feira passada, recuou para R$ 5,15 no início da tarde desta terça-feira. A melhora relevante de preços dos ativos de risco neste período pode ser explicada pelo entendimento do mercado, com base nas declarações recentes de membros da equipe do governo, de que o novo projeto fiscal manterá as contas públicas ajustadas.
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, chegou adiantar nesta última segunda-feira que o arcabouço fiscal permitirá aumentar o impacto social por parte do governo federal, simultaneamente, em que será estabilizada a dívida pública, o que, em tese, torna o projeto crível.
Para o mercado, a parte mais relevante está na estabilização da dívida pública, evitando aumento de gastos na última linha do fechamento das contas públicas. Desta forma, torna-se viável a administração da situação fiscal no médio e longo prazo.
Em função do endividamento do governo brasileiro, de 73% PIB, já ser considerado muito elevado para países emergentes, não há margem para aumentar os gastos públicos e muito menos empurrar o problema fiscal para ser resolvido no longo prazo. É uma situação que exige solução imediata, caso contrário o país sofrerá consequências devastadoras no longo prazo.
Aumento do endividamento e reforma tributária
O simples fato de o governo impedir o aumento do endividamento já é considerado um ponto positivo pelo mercado, já que a dívida brasileira subiu de forma acelerada desde 2014. Portanto, a interrupção desta trajetória benigna gera um certo alívio aos agentes, bem como previsibilidade de sustentação fiscal, o que poderá destravar os investimentos em ativos de risco e economia real.
Outro ponto relevante para o mercado está na expectativa pela apresentação da reforma tributária. O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, afirmou nesta terça-feira que a reforma tributária é um dos principais temas do governo para a área econômica, após a solução do novo arcabouço fiscal.
O objetivo, segundo Alckmin, é simplificar o sistema tributário brasileiro. Atualmente o nosso sistema é considerado um dos mais caóticos e complexos do mundo, o que inevitavelmente impacta a produtividade e desestimula o empreendedorismo.
Com a reforma, o governo espera reduzir o desgaste enorme das empresas com a parte tributária, para que o processo possa fluir de forma mais lógica e natural possível. Também espera-se que a simplificação permita aumentar até mesmo as exportações, além de reduzir o foco da arrecadação sobre o consumo.
Por fim, a ata do Copom divulgada nesta terça-feira seguiu o mesmo tom hawkish do comunicado divulgado após a reunião de Comitê, realizada no dia 22/03/2023. Dentre os destaques da autoridade monetária para manter uma postura firme de política monetária, está a importância de ancorar as expectativas futuras.
O Banco Central explicou claramente na ata como as expectativas futuras podem atrapalhar na precificação de preços no presente. Isso ocorre pois na medida em que o mercado projeta uma inflação mais elevada no futuro, naturalmente empresas e trabalhadores passam a incorporar essa pressão maior sobre os preços em seus reajustes de preços e salários. Este processo retroalimenta o ciclo de inflação elevada.
Por conta da deterioração adicional observada nas últimas projeções de inflação, o Banco Central identificou corretamente necessidade de manter sua comunicação mais dura com o mercado, visando ancorar estas expectativas futuras ao centro da meta a ser perseguida.