O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil decidiu nesta última quarta-feira manter inalterada a taxa básica de juros aos 13,75% ao ano, pela sexta vez consecutiva. Desde o início deste ano, a autoridade monetária vem sofrendo duros ataques por vários membros do governo, exigindo a queda da taxa Selic.
Apesar da grande pressão política, a autoridade monetária segue mostrando a importância de ser uma instituição independente, para conseguir desempenhar bem o seu trabalho de defesa da moeda, bem como de seu respectivo poder de compra.
A taxa Selic segue inalterada aos 13,75% ao ano de forma claramente justificada. A inflação acumulada apenas nestes três primeiros meses do ano já está em 2,09%. No último Boletim Focus, a mediana das expectativas do mercado para a inflação do acumulado de 2023 está em 6,05%, significativamente acima da meta de 3,25%.
Esta é a primeira reunião do Copom após a apresentação do projeto de novo arcabouço fiscal do atual governo. A regra deve substituir o mecanismo de teto de gastos para controle das contas públicas. O governo tinha esperança que o projeto poderia convencer o Banco Central a estudar o início do ciclo de cortes da taxa Selic. Entretanto, o próprio presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, havia afirmado semanas atrás que não existe relação mecânica entre o arcabouço fiscal e a queda da Selic.
Na verdade, o Banco Central precisa mesmo é de mais clareza na ancoragem da inflação à meta nas projeções coletadas semanalmente com os principais economistas e analistas do mercado, divulgado pelo Focus. A mediana das projeções do mercado para o IPCA do próximo ano está em 4,18%, ainda com boa folga acima da meta de inflação de 3% a ser alcançada neste ano.
Considerando o cenário de referência do Banco Central, onde a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, a inflação cai para 5,7% em 2023 e 2,9% em 2024. Os dados da autoridade monetária sinalizam portanto ainda uma longa necessidade de manter a Selic inalterada aos 13,75% para alcançar a meta de inflação em 2024.
Além disso, o Banco Central continuou ressaltando em comunicado que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. A autoridade monetária também segue avaliando que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária.
A possibilidade de novas elevações na taxa Selic é considerada pequena (menos provável) pelo Banco Central. Entretanto, no mercado financeiro os contratos de juros futuros estão refletindo um cenário exageradamente mais otimista.
O contrato de juros futuros com vencimento em 2025 segue em queda firme desde novembro do ano passado, após registrar 14,19% ao ano. Atualmente, o contrato é negociado aos 11,86%, bem abaixo do patamar atual da Selic.
Considerado um contrato de média duration, o mercado aparenta confiança numa queda de curto prazo da Selic, a fim de justificar negócios travando juros a 11,86% desde já, o que exige abrir mão da liquidez e prêmio maior oferecido pelo pós-fixado no momento atual.
Para justificar este risco nos DIs de médio prazo, a Selic não poderá demorar tanto para começar a ceder, além de apresentar um ciclo de afrouxamento considerado intenso. De qualquer forma, não há nenhuma indicação de futuros cortes na taxa Selic. A inflação também continua distante do objetivo a ser alcançado e o Banco Central continua utilizando palavras e expressões de grande impacto em seu comunicado, como perseverança, paciência e serenidade.