Desde o início de 2023, republicanos e democratas estão num impasse para aumentar o limite de endividamento do governo dos Estados Unidos. No mês de janeiro deste ano, o departamento do Tesouro começou a adotar medidas de contingência quando a dívida chegou aos 31,4 trilhões de dólares, último limite estabelecido pelo Congresso.
Nos Estados Unidos, todas as ocasiões onde a dívida alcança o teto permitido pelos parlamentares, é necessário uma nova negociação na Câmara e Senado para permitir um novo aumento do endividamento.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, vem conversando com o presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, do partido republicano, desde meados de fevereiro.
Desde a primeira reunião na Casa Branca, McCarthy deixou claro ao presidente Biden que a Câmara quer realizar um acordo com o governo federal para cortar gastos. Caso seja aplicada a necessária disciplina fiscal, os republicanos irão apoiar um novo aumento do endividamento do governo norte-americano na Câmara.
Importante ressaltar que após a última rodada de eleições para o Congresso, os republicanos voltaram a conquistar maioria na Câmara. Portanto, Joe Biden precisa estar aberto a negociações, caso queira passar qualquer projeto na Câmara.
Mesmo com a dívida em trajetória acentuada e insustentável para o longo prazo, os democratas não aceitam discutir pacotes de cortes de gastos. Nesta última quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos avisou que o aumento do limite de endividamento não é negociável, ampliando o impasse com os republicanos.
É desejável que qualquer país tome suas respectivas medidas de sustentabilidade fiscal, trilhando um cenário econômico de longo prazo saudável, com dívida, inflação e moeda sob controle. Os democratas continuam não enxergando necessidade de corte de gastos, por isso o impasse persiste nos Estados Unidos.
Caso a situação continue travada, os Estados Unidos não poderão ultrapassar o endividamento de 31,4 trilhões de dólares, forçando o Tesouro a não cumprir com suas obrigações. Entre outras palavras, os Estados Unidos poderão dar o calote, criando um cenário catastrófico de elevada magnitude a nível global, nunca antes ocorrido na história.
Títulos da dívida pública do governo norte-americano são considerados os mais líquidos e mais seguros no mundo, amplamente utilizados por diversos banqueiros centrais para compor suas respectivas reservas. Além disso, vários bancos comerciais, bancos de investimentos, empresas e seguradoras do mundo inteiro utilizam os bonds americanos para formar caixa, operações de hedge, entre outros. Estima-se que a partir do mês de julho o Tesouro americano não terá mais condições de honrar com seus compromissos.
Desde a administração Barack Obama, os procedimentos de revisão e elevação do teto de gastos tem criado duras batalhas na Câmara, principalmente em função da aceleração dos gastos. Desde que o teto de gastos entrou em vigor, em 1960, o Congresso teve de ser acionado 80 vezes para votar o aumento da capacidade de endividamento do país.
Por outro lado, está na mão dos democratas aceitar as condições compreensíveis para elevar o teto do endividamento. A principal característica da proposta dos republicanos é bastante simples: cortar 4,5 trilhões de dólares de gastos estimados nos próximos 10 anos, com exceção do orçamento militar, já que China, Rússia e vários outros países estão acelerando os investimentos no setor militar.
Caso Joe Biden aceite a redução gradual de gastos no período de 10 anos, McCarthy avisou que os republicanos irão aprovar um aumento na capacidade de endividamento do governo norte-americano em 1,5 trilhão de dólares.
Apesar de a declaração de Joe Biden ter aumentando o impasse num momento delicado, próximo de alcançar o limite de endividamento, não parece haver outra saída a não ser negociar com os republicanos e aceitar um plano de austeridade fiscal.