A manutenção do impasse para elevação do teto da dívida dos Estados Unidos jogou as taxas dos títulos públicos de curtíssimo prazo para o maior patamar das últimas décadas, revelando um raro temor por parte de players do mercado com relação à capacidade de pagamento do governo no vencimento das obrigações.
Nesta última terça-feira, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, enviou uma advertência pública as lideranças políticas nos Estados Unidos, ressaltando que a incapacidade de alcançar um acordo para aumento do teto da dívida a tempo iria provocar um risco de calote, algo com impactos prejudiciais para todo o mercado financeiro global.
As negociações para elevação do limite máximo de endividamento do governo norte-americano têm se mostrado bastante tensas desde a administração Obama, mas sempre houve solução para evitar o calote, mesmo que nos últimos momentos.
Havia certa expectativa no mercado de que um acordo pudesse ser alcançado entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, representando a agenda dos democratas, e o presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, líder da maioria republicana, na semana passada.
Apesar de várias reuniões realizadas nos últimos dias/semanas, não houve avanço para determinar as condições do plano para o Congresso votar a elevação do limite de endividamento dos Estados Unidos. Biden tem insistido desde o início deste ano que não aceita nenhuma contrapartida fiscal de redução de gastos para aumentar o endividamento. McCarthy, representando a maioria republicana na Câmara, é contra a ideia do presidente dos Estados Unidos, exigindo comprometimento no controle de gastos para que seja possível elevar o endividamento. Algo desejável para a sustentabilidade fiscal de longo prazo.
A única concordância observada até o momento entre Joe Biden e Kevin McCarthy está relacionada ao calote na dívida. Ambos entendem que o governo norte-americano não pode cair numa situação de inadimplência com seus credores e que um acordo precisa ser fechado antes da chamada data X.
O Comitê de Orçamento do Congresso estabeleceu que a data X será alcançada em 15 de junho deste ano. Ou seja, a partir deste dia, o país será incapaz de honrar seus compromissos financeiros, entrando em default. Janey Yellen, secretária do Tesouro, têm alertado que a data X será alcançada já no dia 01 de junho deste ano, o que pode ser uma forma de pressionar para um acordo o quanto antes.
A data X de Yellen está sendo questionada pelo Congresso. Considerando a data X do Congresso ou do Tesouro, fato é que o tempo está acabando para que seja possível alcançar um acordo sem provocar um default inimaginável ao mercado.
Numa situação muito rara de mercado, a taxa dos títulos públicos de curtíssimo prazo do tesouro americano ultrapassou o nível de 5% ao ano. A Treasury com vencimento em 6 meses está pagando 5,39% ao ano.
Este nível está acima até mesmo do patamar considerado elevado para os padrões históricos da FFR, entre 5% a 5,25% ao ano. O FED alertou em sua última reunião de Comitê de Política Monetária que não pretende subir mais a taxa básica de juros, ao menos nas próximas reuniões.
O objetivo do Banco Central dos Estados Unidos agora é realizar uma pausa no processo de aperto monetário para avaliar a evolução dos indicadores macroeconômicos, especialmente o núcleo da inflação, desemprego e PIB.
Mesmo com esta sinalização importante do FED, a taxa da Treasury de 6 meses conseguiu ultrapassar o nível da FFR, o mais elevado em 20 anos, denunciando forte pressão vendedora. O excesso de prêmio no título pode ser entendido como início de uma precificação de risco de default, já que até o momento continua havendo impasse entre as lideranças políticas.