A recente onda global de carry trade tem beneficiado vários países emergentes nas últimas semanas. Várias economias em desenvolvimento conseguiram obter forte entrada de fluxo de capital estrangeiro, em sua maior parte, até o momento, direcionados para títulos de renda fixa em moeda local.
Não por acaso, mesmo com a deterioração no ambiente local, o real conseguiu se valorizar contra o dólar. A moeda estava parcialmente acomodada na região dos R$ 5,30 desde o final do ano passado. Atualmente, o real está sendo negociado a R$ 5,07. O peso mexicano, outro exemplo de país que compete com Rússia e Brasil, saiu da região dos $ 19,70 para $ 18,16 atualmente.
Somente na semana passada, o rublo russo perdeu 4,5% em relação ao dólar, deslocando-se de forma totalmente oposta a maioria das moedas de mercados emergentes. O descolamento negativo da moeda russa chama atenção, especialmente neste momento propício ao carry trade. Pode ser um sinal relevante de que as sanções adotadas pelos países ocidentais estão começando a fazer efeito no mercado financeiro.
Ao iniciar sua invasão à Ucrânia, a moeda russa experimentou um choque expressivo do mercado, alcançando 155,00 rublos por cada dólar. Este movimento foi justificado pelo temor do mercado sobre os possíveis impactos das sanções econômicas.
Logo após o choque, o Banco Central da Federação Russa realizou intervenções no mercado e conseguiu acalmar os investidores, voltando a estabilizar sua moeda de forma rápida. Inclusive, o rublo russo chegou a se valorizar contra o dólar alguns meses depois, caindo para uma mínima de 50,00.
No final do ano passado, o dólar começou a se valorizar novamente contra o rublo russo. Desta vez de uma forma mais moderada, porém constante. Este movimento observado no final de 2023 se mantém presente, jogando a moeda russa acima dos 81,50, historicamente um importante patamar de resistência.
A força do dólar contra o rublo russo pode ser explicada também pela recente queda do preço do petróleo. Neste início de Abril, a Rússia confirmou que vai estender seu atual corte de 500 mil bpd até o final de 2023, num movimento coordenado junto com a Opep na tentativa de provocar uma nova aceleração nos preços do barril.
Para efeito comparativo, o desempenho do rublo russo só não chega a ser pior do que o peso argentino neste ano. Entre todos os emergentes, a moeda russa apresenta o pior desempenho, sem considerar o caso excepcional de uma crise interminável na Argentina.
Alguns players de mercado também estão observando que a recente derrota do rublo russo pode ser um sinal de que os países ocidentais estão conseguindo de fato iniciar um movimento de estrangulamento financeiro da Rússia, que por sinal foi um dos objetivos das sanções adotadas em 2022.