O Boletim Focus divulgado pelo Banco Central na manhã desta segunda-feira revelou uma atualização importante para o cenário de inflação no Brasil. A pesquisa feita com os maiores economistas e analistas do país revelou uma expectativa macroeconômica mais favorável.
A mediana da pesquisa mostrou que a expectativa do mercado para a inflação de 2023 recuou fortemente de 6,03% na semana passada para 5,80% no levantamento desta semana. Para 2024, a expectativa de inflação caiu pela terceira semana consecutiva, de 4,18% para 4,15% semana passada e agora em 4,13%.
A expectativa de queda da inflação, principalmente para este ano, provavelmente foi muito influenciada pela nova política de preços de combustíveis da Petrobras. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, concorda com o racional, afirmando em seminário promovido pela Folha de São Paulo nesta segunda-feira que as projeções para o IPCA cederam muito em função dos preços dos combustíveis.
Entretanto, Campos Neto ressaltou que as expectativas mais longas para o IPCA ainda estão persistentemente em torno de 4%. A meta de inflação a ser perseguida em 2024 e 2025 é de 3% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 pontos percentuais para baixo ou para cima. As estimativas atuais de inflação para o longo prazo (2024 e 2025) continuam distantes do centro da meta e muito próximas do teto da margem de tolerância (4,50%).
Incertezas relacionadas ao quadro fiscal, juntamente com a pressão do governo para derrubada da taxa Selic já no curto prazo, podem estar alimentando a desconfiança do mercado em horizontes mais longos para a política monetária. Um eventual cenário de melhora das contas públicas, juntamente com harmonia entre autoridade monetária e poder executivo, pode limpar incertezas no horizonte e deixar os agentes mais convictos no cenário macro de médio e longo prazo.
A queda observada nos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha levou os economistas a revisarem para baixo estimativas de inflação já para os próximos meses. A mediana das expectativas para o IPCA de junho tombou de 0,50% para 0,34%. Para o IPCA de julho, a estimativa agora está em 0,36%. Este ritmo de inflação mensal, em torno de 0,30% a 0,35% ao mês, caso confirmado no médio prazo, pode abrir as portas para cortes sustentados na taxa Selic.
Apesar das novas expectativas de queda da inflação para este ano, não houve alteração para a taxa básica de juros. A mediana dos dados coletados pelo Boletim Focus continua mostrando que o mercado espera taxa Selic de 12,50% no fechamento deste ano, sem alterações comparado com as pesquisas anteriores.
A estimativa é levemente inferior ao patamar atual da taxa Selic, de 13,75%, revelando que o mercado espera cortes não muito relevantes na taxa básica de juros no final deste ano, somente após confirmada o processo de evolução da desaceleração da inflação na base anualizada.
A queda do dólar x real constatada nos últimos meses pode levar a melhora adicional ao quadro inflacionário no Brasil, tendo em vista o peso e influência da moeda norte-americana em vários produtos.
No início do ano, a moeda chegou a ser negociada em torno de R$ 5,40 a R$ 5,50. Atualmente, o dólar contra real opera abaixo do patamar psicológico de R$ 5,00, mostrando apetite relativamente contínuo pela moeda brasileira, beneficiada, também, pela abertura de janela para operações de carry trade.