O Departamento de Comércio dos Estados Unidos informou nesta sexta-feira que o índice de preços ao consumidor PCE (indicador preferido do FED) avançou 0,40% em abril, comparado ao mês anterior. Na base anual, o indicador acumula alta de 4,40%, mostrando aceleração frente aos 4,2% registrados no mês de março.
O núcleo de inflação medido pelo PCE, excluindo ítens voláteis como alimentos e energia, também registrou crescimento de 0,40% no mês de abril, revelando uma inflação disseminada entre diferentes produtos e serviços na economia. A projeção do mercado para o núcleo do PCE estava em 0,30%.
A base anual do núcleo de inflação no PCE também superou as expectativas do mercado, saindo de 4,60% em março para 4,70% em abril. No mês de março, o núcleo havia acelerado 0,30%, que já era considerado ritmo forte e incompatível com a meta de inflação.
A aceleração tanto do PCE, quanto do seu respectivo núcleo, gera nova preocupação entre os diretores de política monetária, já que a pausa anunciada na reunião anterior era justamente para monitorar os efeitos da FFR elevada sobre os preços. Entretanto, ao invés de a inflação desacelerar, como estava ocorrendo na passagem de 2022 para 2023, os índices de preços voltaram a acelerar.
A pressão sobre os preços pode ser explicada pelo aquecimento da economia norte-americana. Indicadores de atividade e emprego seguem rodando em ritmo considerado favorável. Os efeitos da FFR mais elevada ainda não foram suficientes para provocar um breque de crescimento ou fechamento de postos de trabalho.
A taxa de desemprego continua nos 3,4%, muito próxima dos níveis mais baixos da história. O mercado de trabalho aquecido pressiona os salários para cima, provocando aumento de renda das famílias. Os gastos com consumo avançaram 0,80% no mês de abril comparado com o mês anterior, em ritmo considerado forte. O número também veio acima da expectativa do mercado que já era otimista, de avanço de 0,40%.
A resiliência da economia norte-americana pode não somente estender o ciclo de aperto monetário por mais tempo, comparada a expectativa anterior na projeção da mediana dos membros votantes do FED, como também voltar às discussões de novo aumento na FFR no futuro, caso a inflação continue rodando próximo dos níveis atuais, ritmo muito superior à meta de 2%.
As curvas das treasuries continuam dando sequência ao movimento de abertura, alimentadas pelos mais recentes indicadores macroeconômicos. A taxa do título do tesouro norte-americano com vencimento em 10 anos chegou aos 3,83%, bem superior ao nível de 3,37% observado algumas semanas atrás.
Apesar da rápida ascensão das taxas de juros futuros nos Estados Unidos nestes últimos dias, o nível atual negociado no mercado ainda está com uma boa distância sobre a FFR, atualmente no intervalo de 5% a 5,25% ao ano. É um patamar que ainda revela certo otimismo na eficácia do combate à inflação, o que permitiria cortes na FFR no médio prazo.
Este cenário parece ainda mais improvável após os dados divulgados nesta última sexta-feira e pode inclusive criar dificuldades de limitação no afrouxamento monetário futuro para os países que estão mais avançados no processo de combate à inflação, como o Brasil, por exemplo.
Caso a FFR continue no patamar atual por mais alguns trimestres ou semestres, o Banco Central do Brasil não teria muita margem para cortes agressivos na taxa Selic, já que o diferencial de juros entre Brasil vs Estados Unidos ficaria mais espremido, provocando impactos no mercado financeiro e fluxo de capitais.