O relatório JOLTs, divulgado nesta última terça-feira pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, revelou que a abertura de postos de trabalho no país caiu de 10,563 milhões em janeiro/2023 para 9,931 milhões em fevereiro/2023.
Esta é a maior baixa de vagas de emprego dos últimos 21 meses, revelando que a economia pode estar sentindo o impacto da política de aperto monetário do FED. Neste cenário, Wall Street volta a considerar risco de recessão para a economia dos Estados Unidos neste ano.
Apesar da queda observada no relatório Jolts, o mercado de trabalho é considerado altamente robusto. A taxa de desemprego está em apenas 3,40%, conforme dados do último payroll do mês de janeiro, que veio com números muito fortes.
Os economistas esperavam criação de 185 mil postos de trabalho em janeiro/2023. Os dados divulgados pelo Departamento de Trabalho mostraram criação de 517 mil novas vagas, muito acima da expectativa.
Nesta sexta-feira, será divulgado o payroll do mês de fevereiro/2023. As expectativas são majoritariamente negativas e tendem a ser revisadas para baixo após a divulgação do relatório Jolts desta terça-feira.
De qualquer forma, um provável desaquecimento do mercado de trabalho norte-americano pode não motivar o FED a interromper imediatamente o ciclo de alta na FFR. Parte do mercado financeiro e da imprensa local segue pressionando por uma revisão de estratégia da autoridade monetária, tornando-se mais dovish.
Atualmente, a taxa de desemprego em 3,40% demonstra um dos maiores ciclos de aquecimento do mercado de trabalho da história dos Estados Unidos. Este é o menor nível de desemprego dos últimos 53 anos.
Será uma tarefa quase impossível controlar a inflação de volta para o centro da meta de 2% ao ano sem provocar impactos negativos na taxa de desemprego. Desaquecer o mercado de trabalho atipicamente robusto inicialmente não causaria estragos relevantes na economia, já que existe certa margem para o nível de desemprego retornar a região de 4% a 6%, dentro da média dos últimos 20 anos.
Entretanto, qualquer dado que sinalize fraqueza econômica é encarado como uma tempestade em Wall Street. Traders de juros enxergam agora chance de 98% de queda da FFR até o final deste ano, mesmo com o FED reforçando sua comunicação numa rota totalmente oposta.
A grande maioria dos membros do Fomc não só acredita que a FFR não irá cair, como esperam novo aumento de 0,25 ponto percentual até o final de 2023, chegando a faixa de 5% a 5,25% ao ano.
O tombo recente da taxa de juros da Treasury de 2 anos é um bom termômetro deste novo sentimento criado em Wall Street sobre a necessidade quase emergencial de queda da FFR.
O prêmio da Treasury curta de 2 anos derreteu de 5,05% ao ano em março para 3,84% ao ano nesta última terça-feira, muito abaixo da expectativa dos membros do Fomc para a FFR. Este foi o maior recuo de prêmio de risco neste título desde janeiro de 2008.
Otimistas com uma possível aliviada do FED, os investidores também compraram mais forte ações na bolsa de valores neste mês de março, levando o S&P500 aos 4.100 pontos, próximo da máxima de 2023.
Ano passado houve o mesmo tipo de pressão por parte de Wall Street, que se mostrou otimista com uma guinada dovish do FED. A justificativa que circulava o mercado norte-americano na época era basicamente pelo risco considerado não desprezível de recessão. Entretanto, o PIB dos Estados Unidos em 2022 foi de 2,1%, muito longe de um cenário restritivo.