A quase totalidade dos banqueiros centrais no mundo inteiro ainda estão sentindo dificuldades para controlar seus índices de preço. O cenário observado no Brasil, com forte desaceleração da inflação nos últimos 12 meses, chamou atenção de vários players de mercado.
Configurando uma situação extremamente rara na história, o Brasil possui hoje um cenário macro de inflação mais benigno comparado a maioria dos países emergentes e até desenvolvidos.
A inflação acumulada nos últimos 12 meses recuou para 4,65% no Brasil. Apenas Japão (4,38%), Luxemburgo (3,56%), Coreia do Sul (4,24%) e Suíça (2,95%) apresentam números de inflação melhores do que o brasileiro, países onde a inflação sempre foi historicamente muito baixa.
Além disso, vários países desenvolvidos e emergentes lutam contra uma inflação acima de 9% no acumulado dos últimos 12 meses, entre eles destaque para Áustria (10,88%), Chile (11,09%), República Checa (16,71%), Reino Unido (9,18%), Hungria (25,38%), Itália (9,14%), Polônia (19,23%), Rússia (16,69%), Suécia (11,95%) e Turquia (55,18%).
Concorrente direto do Brasil, a inflação acumulada dos últimos 12 meses no México ainda está em 6,84%. Na África do Sul, a inflação roda aos 7,34%. Na Índia, a inflação acumulada em 12 meses está em 6,16%.
Nos Estados Unidos, principal referência global, a inflação ainda permanece elevada, aos 6,03% no acumulado dos últimos 12 meses, muito distante da meta de 2% a ser perseguida pelo FED. Mesmo incluindo a expectativa de redução da inflação no próximo indicador a ser divulgado na quarta-feira, o índice ainda permanecerá elevado e bem acima da inflação brasileira.
Observando a situação de juros e inflação em várias economias, o mercado passou a precificar com bastante otimismo uma queda acelerada da taxa Selic já no segundo semestre deste ano. O Banco Central do Brasil foi uma das primeiras autoridades monetárias no mundo a entrar em combate contra a inflação, resultando num período longo e doloroso de Selic alta.
A recente desaceleração do IPCA pode estar abrindo uma boa janela de oportunidade para cortes na taxa básica de juros. Caso o cenário seja confirmado, o Brasil tende a ser um dos primeiros países no mundo a flexibilizar a política monetária após uma das piores crises de inflação global dos últimos 40 anos.
O mercado já começa a precificar este novo cenário no Brasil. Ativos de risco estão apresentando ganhos relevantes nas últimas semanas. O dólar contra real chegou aos R$ 5,01 nesta última terça-feira, saindo da região dos R$ 5,30 operada no final do mês passado. O Ibovespa saiu dos 97.926 pontos em 23/03/2023 para 106.213 pontos nesta terça-feira, acumulando quase 9% de alta.
O ganho expressivo de curto prazo na bolsa brasileira é metade do caminho necessário para iniciar tecnicamente um novo ciclo de bull market (20% de alta desde o último fundo). As compras podem estar sendo impulsionadas justamente pelos investidores estrangeiros, diante de um cenário de abertura de janela para operações de carry trade a nível global, combinado com a mais recente sinalização de inflação mais favorável no Brasil comparado com várias outras praças. Somente nesta terça-feira, o volume financeiro da B3 chegou aos R$ 31,85 bilhões, bem acima da média diária do mês (R$ 19,6 bilhões).