Investidores do mundo inteiro estão aumentando significativamente suas apostas em empresas listadas na bolsa do Japão. Pouco se comenta na imprensa sobre os potenciais existentes na terceira maior economia do planeta. Há vários anos o debate se concentra na disputa entre Estados Unidos e China, deixando de lado uma potência tão importante para o mercado.
O Japão é líder em segmentos de alta tecnologia, conseguindo enfrentar a pressão enorme que vem das empresas chinesas e sul coreanas. Apesar da geografia limitada, ainda é o segundo maior país desenvolvido do mundo. Continua ocupando o posto de maiores indústrias de bens eletrônicos do planeta, terceiro maior produtor de automóveis e maior investidor em tecnologias inovadoras.
A importância do Japão para o mercado financeiro é gigante. O país é considerado o maior credor do mundo, além de possuir cerca de 14% de todos os ativos financeiros que circulam no mercado global. Os fundos de investimento locais, bem como investidores japoneses pessoa física, são reconhecidos como os maiores especialistas em asset allocation a nível global.
Recentemente, o mega investidor bilionário Warren Buffett anunciou que aumentou sua participação em cinco conglomerados japoneses. A exposição da Berkshire Hathaway no Japão é agora a segunda maior do portfólio, perdendo apenas para os Estados Unidos. Os movimentos de Buffett acabaram chamando atenção de outros investidores e gestores de fundos de investimento no mundo inteiro, criando uma euforia compradora de curto prazo na bolsa do Japão.
Conforme pode-se notar no gráfico acima, o índice Nikkei 225, principal referência da bolsa de Tóquio, saiu de cerca de 25.500 pontos no início deste ano para 30.600 pontos atualmente, com forte aceleração da força compradora nos últimos dois meses.
Além do aumento da exposição de Buffett ao Japão, os indicadores macroeconômicos estão se destacando quando comparados a outros peers. O PIB do Japão roda a um ritmo anualizado de 1,60%, com inflação não muito alta de 3,20% e taxa de desemprego em apenas 2,80%.
Além disso, o custo do capital de giro está aumentando nos Estados Unidos e Europa, seguindo a política monetária restritiva do FED e BCE. No Japão, o BoJ mantém a taxa de juros em -0,10%, tornando-se o único país no mundo a praticar juros negativos ou zero.
Outro ponto relevante são as reformas de longa data realizadas pelo ex-primeiro ministro Shinzo Abe, que estão surtindo efeito até mesmo numa melhora dos padrões de governança das empresas. As recompras corporativas somente no acumulado deste ano aumentaram para um recorde de 71,4 bilhões de dólares.
O pagamento de dividendos aumentou significativamente e quase metade das empresas do Topix apresenta caixa líquido em seus balanços. Mais da metade das empresas estão sendo negociadas abaixo do valor contábil. Para efeito comparativo, apenas 7% das empresas do S&P500 são negociadas abaixo do valor contábil e pouco mais de 20% apresentam caixa líquido.
Outro possível catalizador do movimento comprador recente no Japão pode estar relacionado com o impasse para elevação do teto da dívida nos Estados Unidos, forçando autoridades a alertar sobre os riscos de default. Somando aos problemas de inflação elevada, FFR entre 5% a 5,25% ao ano e insatisfações com a administração Biden, o Japão pode estar se tornando candidato para o novo porto seguro do mundo.
A bolsa japonesa é um dos poucos mercados no mundo que está conseguindo dar sequência ao bull market iniciado em 2008, renovando recentemente nova máxima na década.
Com o mais recente rali, a bolsa do Japão voltou a se aproximar dos níveis registrados em 1990, quando estourou uma gigantesca bolha imobiliária e financeira.