Em uma entrevista concedida à Bloomberg TV, nesta última terça-feira, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, se mostrou claramente favorável a um novo aumento da taxa básica de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, a ser realizada no dia 4 de maio.
Caso confirmado, será a sétima reunião consecutiva em que o BCE toma a decisão de subir a taxa de juros na zona do euro. Lane apenas esboçou dúvidas quanto ao ritmo da nova alta de juros, afirmando que dependerá muito dos dados a serem divulgados nas próximas semanas.
O mercado espera que o BCE irá subir a taxa básica de juros em 0,25 pontos percentuais na próxima reunião. Após a incorporação emergencial do Credit Suisse pelo UBS, não houve novos sinais de contágio na zona do euro, referente a crise bancária estourada no mês de março que levou rapidamente à insolvência dos americanos SVB e Signature Bank.
Com menos tensão sobre a saúde do sistema financeiro norte-americano e europeu, a autoridade monetária pode voltar a focar seus trabalhos na prolongada guerra contra a inflação muito acima da meta.
Na Alemanha, a inflação acumulada dos últimos 12 meses ainda está operando em torno de 7,40%. Na França, a inflação gira em torno de 5,70%. Na Itália, o acumulado de 12 meses do principal índice de preços ao consumidor está em 9,15%. Na Espanha, a inflação ronda os 6%. Em Portugal, a inflação acumulada de 12 meses está em 7,43%.
A pressão de preços segue disseminada por toda Europa mesmo com a recente queda nos preços do gás e a regularização do nível de oferta, o que abre mais um sinal de alerta ao BCE.
Nos Estados Unidos, o presidente do FED de Atlanta, Raphael Bostic, afirmou também nesta última terça-feira que espera por mais uma alta da FFR na próxima reunião do Fomc. Posteriormente, Bostic projeta que a política monetária ficará apertada por um bom tempo, antes de começar a pensar em futuros cortes na FFR.
A expectativa do presidente do FED de Atlanta está alinhada com a grande maioria dos diretores do Fomc. Apenas um membro espera que não será necessária nova elevação de 0,25 pontos percentuais na próxima reunião de Comitê. Todos os demais diretores do FED esperam no mínimo uma nova elevação de 0,25 pontos percentuais na FFR, sendo que sete membros projetam novas rodadas de subida na taxa de juros, ultrapassando a banda entre 5% a 5,25% ao ano.
Este cenário de FFR mais elevada e por mais tempo ainda não parece estar sendo devidamente digerido pelo mercado. A taxa de juros da Treasury de 10 anos segue lateralizada nas últimas semanas/meses, na região de 3,60%, mesmo com o reconhecimento das dificuldades de cenário macro por parte da autoridade monetária.
O presidente do FED de Atlanta reforçou que ainda há muito trabalho a ser feito pela autoridade monetária para conseguir conter a inflação. Além disso, Bostic disse enxergar o mercado muito otimista sobre a velocidade em que o FED conseguirá alcançar sua meta de inflação de 2%.
Alguns analistas em Wall Street inclusive esperam cortes na FFR já neste ano, apesar de não haver sinais que justifiquem tal movimento. Pode ser uma tentativa de pressionar a autoridade monetária a reduzir logo a taxa básica de juros, aliviando a pressão sobre ativos de riscos.
Entretanto, o próprio FED demonstrou em seu gráfico trimestral de projeções que não espera alcançar a meta de inflação de 2% antes de 2025.