A rodada de reuniões de banqueiros centrais de alguns países emergentes pares do Brasil nesta semana mostrou novamente enquadramento à situação macroeconômica global delicada, sustentada por uma inflação persistentemente elevada.
A dificuldade de se conduzir a inflação para a meta está explícita nas projeções das autoridades monetárias. A grande maioria espera ancorar a inflação apenas no final do próximo ano, caso a economia não seja atingida por nenhum outro choque de oferta/demanda.
O Banxico, por exemplo, revelou hoje que espera alcançar a meta de inflação de 3% ao ano apenas no quarto trimestre de 2024. Economia muito dependente e ligada aos Estados Unidos, a autoridade monetária mexicana considerou que a atividade segue resiliente mesmo com os colapsos de bancos de médio porte ocorridos neste mês.
Confortável com as medidas tomadas para sustentação do sistema financeiro de seu país vizinho, o Banco Central do México não enxergou necessidade de flexibilizar sua economia. O que poderia ser encarado como uma espécie de defesa preventiva, caso a crise bancária nos Estados Unidos continuasse a se alastrar pelo sistema.
Desta forma, a autoridade monetária mexicana decidiu aumentar mais uma vez a taxa básica de juros, em 0,25 ponto porcentual, alcançando 11,25% ao ano. Já o SARB (autoridade monetária da África do Sul) decidiu nesta quinta-feira subir a taxa básica de juros em ritmo mais forte, aos 0,50 pontos percentuais, alcançando 7,75% ao ano.
O Banco Central da África do Sul alegou que as perspectivas parecem incertas, com crescimento volátil e inflação elevada. Além disso, o SARB também ressaltou que o núcleo de inflação, tanto doméstico, quanto a nível global, continua alto em grande parte do mundo.
A expectativa de inflação na África do Sul subiu significativamente este ano, de 5,4% para 6,0%. Para 2024, o SARB também revisou a projeção de inflação, de 4,5% para 4,9%. Em 2025, a estimativa de inflação ainda continua elevada, aos 4,5%.
Na Colômbia, a autoridade monetária local elevou a taxa básica de juros nesta quinta-feira em 0,25 ponto porcentual, atingindo 13% ao ano. A inflação no país roda num ritmo considerado grave demais, aos 13,28% no acumulado dos últimos doze meses. Desde julho de 2022, a inflação colombiana não consegue rodar abaixo dos dois dígitos. Este é o mais forte rally de inflação na Colômbia desde o final dos anos 1990.
Mesmo com taxa de juros em 13% ao ano, o Banco Central da Colômbia não enxerga impactos significativos em sua economia, provocados pela crise bancária nos Estados Unidos. Assim como nos demais países, o foco continua sendo o combate à inflação persistentemente elevada.
A preocupação dos bancos centrais com a inflação, mesmo com expectativas generalizadas de desaceleração do crescimento, demonstra a gravidade do cenário macroeconômico. O barril de petróleo, por exemplo, foi um dos principais drivers que provocaram a disparada da inflação em vários países.
O preço do barril tipo Brent, referência global, está oscilando neste momento no mesmo patamar de 2018 até início de 2020, antes de estourar a crise do Covid. Com a guerra na Ucrânia, o barril do Brent chegou a ser negociado aos 121,93 dólares em junho do ano passado. Posteriormente, o barril foi recuando gradualmente, até retornar ao preço médio de negócios, em torno de 80,00 dólares/barril.
Alguns economistas esperavam que a normalização dos preços do barril de petróleo pudesse arrefecer a inflação, auxiliando os Bancos Centrais no alcance de suas metas. Entretanto, o recuo da inflação foi considerado modesto em vários países nestes últimos meses.
Tanto índices de inflação geral, quanto seus respectivos núcleos, continuam muito acima das metas, o que caracteriza difusão elevada. Ou seja, não são apenas commodities que estão afetando os preços, mas sim bens e serviços de forma geral. A inflação se espalhou por diferentes setores da economia, o que pode estar provocando efeito de inércia, fato que dificulta ainda mais o trabalho dos Bancos Centrais.