O Boletim Focus divulgado pelo Banco Central na manhã desta segunda-feira mostrou mais uma vez piora nas projeções de inflação, conforme mediana das expectativas do mercado.
A pesquisa realizada com os principais economistas e analistas de instituições financeiras brasileiras revelou que a estimativa para o IPCA de 2023 subiu de 5,98% na semana passada para 6,01% nesta segunda-feira.
As projeções para a inflação de 2024 e 2025 também pioraram, deixando a autoridade monetária pressionada a não cortar a taxa Selic. Para o IPCA de 2024, as expectativas subiram de 4,14% para 4,18%. Há 4 semanas atrás, as estimativas para o IPCA de 2024 estavam em 4,11%.
A velocidade de deterioração na inflação de 2023 e 2024 revela que o Banco Central pode estar longe de alcançar a importante ancoragem das expectativas dos agentes, condição que poderia abrir janela de corte sustentável na taxa Selic. Isso significa que além de frear as revisões altistas para o IPCA no horizonte relevante para a política monetária, o Banco Central precisa reverter esse processo, para que as expectativas futuras estejam próximas do centro da meta de inflação.
Em comunicados recentes, a autoridade monetária inclusive cita a importância de alcançar a ancoragem das expectativas para que seja possível iniciar um ciclo de afrouxamento monetário. Em evento realizado na semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Netos, manteve a postura hawkish, afirmando que as pressões permanecem em um cenário de demanda relativamente forte.
Ainda assim, o mercado teme uma virada dovish do Banco Central por conta da enorme pressão praticada por diversos membros do governo. No Boletim Focus desta segunda-feira, a expectativa para a taxa Selic recuou de 12,75% para 12,50% no fechamento de 2023. Para 2024, a estimativa para a taxa básica de juros segue em 10%.
A nível global, os principais banqueiros centrais continuam hawkish, reafirmando preocupações com o cenário de inflação persistentemente elevada. Christine Lagarde, presidente do BCE, disse recentemente que a crise bancária que atingiu os Estados Unidos e a Europa (via Credit Suisse) não deveria resultar em uma redução das taxas de juros.
O mercado financeiro global segue com uma expectativa mais otimista, esperando que em breve os banqueiros centrais começarão cortar suas respectivas taxas básicas de juros. A taxa de juros da Treasury de 10 anos dos Estados Unidos, por exemplo, inverteu a trajetória em outubro de 2022.
A curva não somente parou de abrir, como voltou a fechar em ritmo acelerado, atualmente aos 3,56% ao ano. O patamar de juros futuros no mercado é muito inferior a FFR, atualmente entre o intervalo de 4,75% a 5% ao ano. Este movimento observado desde o final do ano passado revela que o mercado possui uma visão diferente do Banco Central, acreditando que a taxa básica de juros não ficará elevada por muito tempo.
Este descompasso entre mercado vs banqueiros centrais pode levar a um cenário de frustração futura. Na rodada de decisões de política monetária do mês passado, os principais Banco Centrais continuaram subindo suas taxas de juros, além de sinalizar que novas elevações poderão ocorrer no futuro. Nenhum Banco Central esboçou ainda expectativa para iniciar um ciclo de alívio monetário.