O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou nesta terça-feira que a inflação no Brasil fechou o mês de março em 0,71%. O resultado ficou abaixo das expectativas do mercado, que giravam em torno de 0,80%. O IPCA também mostrou recuo frente ao número apurado em fevereiro, de 0,84%.
A inflação de março divulgada hoje foi a menor taxa para o mês desde 2020. No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA apresenta forte desaceleração, alcançando 4,65%. O resultado acumulado de 12 meses é o mais baixo desde janeiro de 2021, quando a inflação alcançou 4,56%.
Considerando a meta de inflação de 3,25% ao ano a ser perseguida pelo Banco Central, com margem de tolerância de 1,5 pontos percentuais para baixo ou para cima, este resultado acumulado de 12 meses deixa a autoridade monetária dentro da banda máxima da meta de inflação (4,75% ao ano).
Outro fator animador para o mercado é o fato de o IPCA de março ter sido pressionado pela reoneração dos preços dos combustíveis. Mesmo com aumento nos preços de um dos principais componentes do IPCA, principalmente pelo efeito de contágio em outros segmentos, ainda assim houve desaceleração da inflação sobre o mês anterior e também sobre o acumulado dos últimos 12 meses.
O retorno da cobrança dos impostos federais sobre os preços dos combustíveis gerou uma alta de 2,11% no mês de março para o grupo de Transportes dentro do IPCA. O etanol subiu 3,20% no mês e a gasolina subiu 8,33%. Esta última, foi responsável pelo maior peso individual sobre o resultado da inflação do mês de março.
A inflação de serviços, monitorada de perto pelo Banco Central por conta da dificuldade no combate, também gerou outra surpresa positiva ao registrar forte desaceleração de 1,41% em fevereiro para apenas 0,25% em março. O índice de difusão também recuou, de 65% em fevereiro para 60% em março, revelando contágio menor entre diferentes ítens/segmentos do IPCA.
A primeira leitura do mercado sobre os dados do IPCA do mês de março foi muito positiva, provocando forte reação para cima das ações na bolsa de valores, combinado com forte queda nos contratos de juros futuros, acelerando um cenário de precificação de queda da taxa Selic. O dólar também apresenta recuo relevante até o momento, revelando o sentimento otimista dos investidores.
A queda da inflação, atrelada ao novo arcabouço fiscal previsto para ser entregue até sexta-feira sem ajustes, juntamente com as projeções mais recentes de PIB fraco, abrem as portas para o Banco Central estudar o início de um ciclo de afrouxamento monetário já na segunda metade deste ano.
Ainda nesta terça-feira, o FMI (Fundo Monetário Internacional) reduziu sua expectativa de crescimento para a economia brasileira neste ano, caindo de 1,2% previsto no relatório de perspectiva econômica global de janeiro para apenas 0,90% na atualização do relatório divulgada hoje. As projeções são consideradas decepcionantes comparadas até mesmo com a região da América Latina e Caribe, que deve crescer 1,60% em 2023 segundo o FMI.
A expectativa do FMI de crescimento para mercados emergentes em 2023 é de 3.9%. A estimativa da economia brasileira, que faz parte do grupo de emergentes, está muito abaixo de seus pares globais, o que tende a ser mais um indicador a reforçar o cenário para queda da taxa Selic no médio prazo.